sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Manutenção

Um escritório. Um recinto um tanto quanto banal para se trabalhar, principalmente ao som do ventilador a soprar em direção a sua mesa. Foi assim que começou o meu dia de trabalho. Estava sossegada em minha mesa, redigindo uma reportagem, quando de repente escuto um estrondo ensurdecedor do outro lado da porta. O som foi tão alto que conseguiu ultrapassar o som de meu velho ventilador, que roncava como um motor de fusca.
— Ah! O que será desta vez? Mal começa o dia e já tem alguém na porta para me aborrecer. Deixe-me ver quem está batendo na porta. — falei num tom irado.
— Olá. Bom-dia, senhorita. Desculpe-me pelo barulhinho, é que derrubei minha maleta. — disse um rapaz alto e magricela, que carregava uma maleta de ferramentas.
— Não foi nada. Acredita que mal percebi o som? Mas no que posso ajudá-lo? — disse eu, ironicamente.
— O seu chefe pediu para eu vir buscar seus computadores para a manutenção. — respondeu o rapaz invadindo a sala e se dirigindo em direção aos dois computadores que estavam em minha mesa. — Nossa! Fiz bem mesmo em vir... Estão com uma aparência lastimável!
Não bastava começar o dia de trabalho com este tumulto em minha sala, tinha também que vir um técnico em T.I super folgado para levar embora os meus computadores! Os meus lindos computadores, meus companheiros de batalha. Tudo bem que eles funcionavam a base de socos e quando um ligava, o outro desligava, mas eu dava conta do recado.
— Opa, como assim, levar os dois computadores? Tem certeza?
— Com certeza. São ordens do seu chefe. Pelo que sei é ele quem paga o seu salário e também o meu serviço. Portanto, me dê licença para levá-los?
— Sei... Mas você acha que vai levá-los assim e eu vou fazer o que? Tirar férias? – disse, não acreditando no que acabara de ouvir. Afinal, eu precisava dos computadores para trabalhar, mesmo na atual circunstância em que se encontravam.
— Mas tenho que levá-los, senhorita. Recebi uma ordem e vou cumpri-la. — argumentou o rapaz largando sua maleta no chão, fazendo novamente aquele som alto e ensurdecedor.
— Tudo bem então, mas você bem que poderia levar um e me deixar trabalhar com o outro.
— Mas são as ordens do patrão, levar os dois computadores, sem exceção.
— Certo... Vou aproveitar e tirar o resto do dia de folga. Mas me diga, quanto tempo você vai demorar para arrumar estas bodegas? – disse num tom mais que impaciente.
— Ah, uns dois dias...
— Dois dias! Não é muito tempo não? – exclamei, incrédula, novamente.
— É. Um dia para cada computador, suponho.
Rapidamente o rapaz desinstalou os dois computadores, levou até um carro e voltou para buscar os monitores e a mala que havia deixado no chão do escritório.
— Os monitores também? São os computadores que não estão perfeitos, mas não tive nenhum problema com os monitores.
— São as ordens que eu tenho. Levar tudo, inclusive os teclados e os mouses. Vai ver o patrão deve ter comprado uns monitores novos, não é mesmo?
Essa história estava ficando muito mais estranha do que a minha tia Cleide. Se fosse para levar embora todas as peças dos computadores, o meu chefe teria avisado. Entretanto, para não ser mais chata do que eu estava sendo, deixei o rapaz seguir viagem com os computadores do escritório.
Na manhã seguinte, fui para o escritório levando comigo apenas um bloco de notas, uma caneta e umas ideias na cabeça. Não podia deixar que esse fato afetasse no desempenho da minha função, afinal ainda poderia rascunhar algumas notícias até ter meus computadores de volta. Por falar nisso, no caminho aproveitei para parar em uma banca e apanhar um jornal que pudesse me dar uma ideia do que a concorrência estaria preparando.
Abrindo a primeira página, deparei-me com uma notícia que recobria quase toda a extensão do jornal: “Ladrão cara de pau é preso quando saía de um escritório levando três computadores, uma impressora e uma máquina fotográfica. O falso técnico em T.I, apelidado como Costelinha, fazia o furto naturalmente, quando o dono da propriedade vizinha desconfiou da ação e chamou a polícia”.
Não conseguia acreditar no absurdo que eu estava lendo. À medida que continuava a ler, pior eu me sentia. Como é que alguém tinha a coragem de publicar uma notícia pessimamente redigida como aquela, mal informada e cheia de erros de concordância? Fiquei horrorizada com a baixíssima qualidade daquele jornaleco chinfrim. Inclusive a notícia devia ser até falsa. Quem em sã consciência cairia num golpe aplicado por alguém chamado “Costelinha”? Que absurdo!
Apenas uma coisa me animava depois daquilo. Saber que dentro de dois dias o técnico de T.I. traria meus computadores de volta para que eu pudesse mostrar para aqueles jornalistas terríveis como é que se redige uma notícia!

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